domingo, 10 de outubro de 2010

Verdade


E a verdade deixou sua boca, silenciosa e fatal, me atingiu em cheio como um trem chegando à estação. Não podia me mover, meus músculos falhavam, todos eles. Não pude nem ao menos mudar de expressão, ela estava parada olhando para uma estátua.


O vento balançava seus cabelos, fazendo-os dançarem suavemente no ar, ela ainda tinha o mais meigo dos olhares, um eterno sorriso no canto da boca. Um sorriso nem sempre sincero, às vezes escondia algumas tímidas lágrimas, que ninguém poderia ver. Lágrimas orgulhosas demais para caírem. Mas caíam, no escuro, no travesseiro... Caíam quando ninguém estava lá para notar, ninguém poderia saber.


O frio invadia o meu corpo, apesar de ser uma tarde de verão, estava tremendo. A solidão chegara, estava ali me encarando, pronta para atacar e levar um pedaço de mim. Olhei novamente para os meigos olhos de outrora, o sorriso havia sumido, seus lábios agora só mostravam uma tamanha indiferença. E se afastava, cada vez mais, saindo do alcance dos meus braços. Eu não deveria ir atrás dela, não deveria e não podia, mas fui, inutilmente tentei ir, pois algo me impedia, algo me segurava e não me deixava correr. E ela ia embora, ficava cada vez mais difícil ver o brilho em seus olhos. A medida que ela se distanciava, a solidão aproximava, até que em certo ponto só consegui enxergar um ponto da cor de suas roupas, mas o vento ainda me trazia o seu cheiro, o seu doce cheiro que eu jamais esqueceria. Ela se foi, eu a perdi e nada fui capaz de fazer. Repentinamente o vento parou e não senti mais seu cheiro, minha respiração estava cada vez mais pesada e eu estava caindo e caindo, deveria acordar desse maldito pesadelo, mas não o fiz.


A verdade me atingiu, e atingido, fui ao chão.


Nunca me esquecerei de como o vento a trouxe, da mesma maneira que levou... Tão rapidamente.


E quanta saudade de quando eu tinha que esperar todo o dia para ir de encontro ao sorriso sincero, o abraço apertado e carinhoso que fazia eu me sentir nas nuvens. E o que era mais que suficiente: sua companhia, que eu nunca mais terei.



Por Lucas

3 comentários:

  1. Ficou Perfeito! *-*
    Muito bom mesmo. O Texto tem inspiração em algum autor/movimento literário?

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  2. Não... na verdade eu não tentei seguir nenhuma "linha" de autores ou movimentos literários xD

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  3. Lembra muito Álvares de Azevedo. =]

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